Oi, pessoal!
Venho namorando com a idéia de fazer entalhe já a bastante tempo. Na verdade, é algo que sempre quis fazer desde muito jovem. Esse me parecia ser um objetivo difícil de atingir porque não se encontram cursos e material de entalhe com facilidade, principalmente no tipo de trabalho que eu tinha em mente fazer.
A alguns meses atrás, entrei em contato com o trabalho de
Gary LeMaster, exímio entalhador de
ovos cujo trabalho pode ser visto aqui mesmo no blog. Ele nos visitou deixando, inclusive, um recado nos comentários, o que foi motivo de muita alegria e honra para mim por ser ele uma assumidade no assunto, conhecido internacionalmente, com muitos colecionadores de suas peças ao redor do mundo todo. Até chegar no nível dele tenho que comer muuuito arroz com feijão - rs. Junto com o incrível trabalho dele descobri um maravilhoso aparelho de entalhe chamado
Turbo Carver. Era a resposta que eu procurava!
Essa peça, ao lado, foi meu primeiríssimo trabalho de entalhe. Foi com ela que eu entrei em contato com o aparelho e as peças pela primeira vez e tive que aprender na base da tentativa e erro para o que cada uma servia, além de me acostumar com a potência do aparelho, o que dava e o que não dava para fazer com ele, o que seria exigido de mim durante a execução do trabalho, etc. Foi com essa caixinha que aprendi que o entalhe, basicamente, é se retirar a parte negativa do desenho, ou seja, o fundo. O que sobra, é o entalhe.
Daí entra o trabalho nas laterais, de modo que acompanhem o desenho que vemos de cima (trabalho em 2D). Isso é parte fundamental do trabalho. São elas que vão distinguir entre um trabalho bem feito, com esmero e outro feito de qualquer jeito, principalmente para quem pegar a peça na mão. Não tem como esconder ou disfarçar algum defeito quando uma peça é analisada pessoalmente, ao vivo. Uma peça bem feita sempre será muito mais valorizada ($$$) do que outra mal feita. Quanto mais perfeita, melhor. Então, dedico meus esforços no sentido de sempre fazer o melhor que eu puder, seja nesse ou em qualquer outro trabalho que faça.
Fazer o fundo com a mesma altura é outro desafio. Depois de um tempo, tive a idéia de colocar um grampo de cabelos no lado do aparelho, com a ponta maior para fora, de modo que as brocas não ultrapassassem um determinado limite - como podem ver na foto, abaixo. Isso facilitou muito essa parte. Mas, mesmo assim, requer atenção constante.
Esse aparelho (
clique para ler) como podem ver é do tamanho de uma caneta, muito leve e trabalha com brocas
que têm o tamanho das brocas usadas pelos dentistas, ou seja, são bem pequenas
(veja o tamanho delas em relação ao meu dedo) e permitem o entalhe de elementos igualmente pequenos, de modo que é possível se fazer um trabalho muito detalhado e minucioso, meu principal objetivo. Funciona com compressão de ar. Tem uma potência insuperável de 400 mil rotações por minuto, ou seja, mais de 6 mil rotações por segundo, deixando longe os concorrentes como a Dremell, por exemplo, que gira a 35 mil rotações por minuto (0.58 por segundo).
Algumas pessoas - ou mesmo muitas - podem pensar à primeira vista que tendo esse aparelho qualquer pessoa pode realizar esse trabalho. Bem... Pense mais uma vez! Não é fácil. Ele facilita o
trabalho, mas não trabalha sozinho. É um trabalho bem lento, muito minucioso, requer muita dedicação e, acima de tudo, determinação. Estamos trabalhando com um aparelho que gira numa rotação incrível, retirando tudo o que vê pela frente. Qualquer descuido, a qualquer segundo, pode por a perder todo o trabalho. Os erros não podem ser concertados, em sua maioria.
O aparelho tem um soprador muito potente junto à parte onde colocamos as brocas, que não deixa acumular pó no local onde estamos entalhando- o que é, sem dúvida, uma grande vantagem ao trabalho. Porém, esse pó tem que ir para algum lugar, certo? Bem... Ele vai para todos os lugares - hehe! No
ambiente inteiro onde estamos trabalhando, no cabelo, pele, roupas e, claro, nas nossas narinas e pulmões. Daí a necessidade de se trabalhar com uma máscara o tempo todo. O ambiente todo onde trabalhamos, também tem que ser bem protegido, coberto com lençóis velhos, etc.
Outra questão: o tamanho da peça a ser trabalhada e a grossura da madeira. Garanto que nunca mais pego peças grandes como essa ou com madeira fininha. Retirar grandes áreas do fundo com brocas tão pequenas é um trabalho imenso, demora demais para se finalizar.
Entalhar em uma madeira que tenha espessura fina é outro desafio imenso. A gente fica com o coração na mão o tempo todo, com medo de furar - hehe! Imagine o Gary entalhando cascas de ovos? Nossa! Acho que eu iria parar no hospital com um ataque nervoso associado a um ataque cardíaco de tanta tensão! - hahaha! Por isso mesmo, decidi que de agora em diante só vou trabalhar peças pequenas e com madeira mais grossa.
Demorei mais de quatro meses para finalizar o entalhe dessa caixa. Muito em função
da inexperiência e por uma somatória de tudo o que expliquei acima
(tensão, barulho, claustrofobia da máscara, poeira interminável, etc). Mas, de uma coisa tenho certeza: simplesmente, amo fazer isso e não pretendo parar de jeito nenhum. Já tenho uma nova peça em andamento e ainda leva um tempo para eu terminar. Assim que estiver pronta, trago para vocês verem o resultado final combinado? Espero que tenham gostado.
Um beijo imenso, pessoal!
Lu Heringer :)
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